quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Pela reabertura da QUEERMUSEU

Obra de Bia Leite da mostra "Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira". Foto: Roger Lerina/Folhapress




Nesse domingo (10/09) o Santander Cultural de Porto Alegre-RS, encerrou a exposição Queermuseu que estaria aberta ao público até 08 de outubro deste ano.

Em sua página no Facebook, o Santander Cultural limitou-se a pedir "sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra". Num tom omissivo e completamente diferente da proposta inicial da exposição, que dizia ser "uma iniciativa inédita que explora a diversidade de expressão de gênero e a diferença na arte e na cultura em períodos diversos".

Ao não apresentar nenhuma evidência sobre o que era ofensivo e o que (ou a quem) se desrespeitava na exposição, somos levados a crer que o Santander Cultural atendeu aos apelos LGBTfóbicos e machistas de grupos de pressão que exigiam o fim da exposição. Dentre estes grupos, se destaca o Movimento Brasil Livre (MBL), uma organização política de extrema-direita, que ganhou audiência durante as manifestações populares contra o Governo Dilma (PT). Seus membros se arvoravam como os combatentes da corrupção, mas se desmoralizaram progressivamente por suas ligações com o PMDB de Eduardo Cunha e Michel Temer, o PSDB de Aécio Neves e o DEM de Rodrigo Maia, atual presidente da Câmara dos Deputados, e por apoiarem a Reforma Trabalhista e da Previdência de Michel Temer (PMDB).

Além disso, o MBL é hoje um dos grupos políticos que mais defende o nefasto projeto "Escola sem partido". Seu vereador pelo DEM de São Paulo, Fernando Holliday, intimida professores das escolas públicas da cidade, fazendo incursões para "fiscalizar" supostas doutrinações ideológicas nas escolas.

O Projeto Escola sem Partido é um projeto que visa embotar a juventude brasileira, sobretudo a juventude pobre e negra que acessa a escola pública no país, afundando nossa juventude em preconceitos e impedindo o desenvolvimento do pensamento crítico. Este projeto é uma resposta da burguesia aos levantes de massa de uma juventude que deseja mudanças radicais em suas vidas e que não está mais disposta a suportar o peso do racismo, do machismo e da LGBTfobia em nossa sociedade, como vimos nas Jornadas de Junho de 2013 e nas Ocupações de Escolas em 2015 e 2016.
 
E como Educação e Museus estão profundamente ligados, a aprovação destes projetos nas Câmaras municipais, Assembleias Legislativas e no Congresso, tornarão este tipo de ataque desferido à Queermuseu mais corriqueiros. E não podemos admitir isso!

Uma traição histórica 

Colabora para esta ação covarde e LGBTfóbica o fato de que a LGBTfobia não é crime em nosso país. E é impossível entender isso sem lembrar das grandes traições do PT também neste terreno. Afinal, a amnésia na política é um crime gravíssimo.

É preciso lembrar que o governo Dilma (PT) rifou os direitos dos LGBTs, das mulheres e dos negros em favor do apoio da chamada bancada da Bíblia, chegando ao cúmulo de redigir uma “Carta ao Povo de Deus”, em 2010. Em 2011, Dilma ordenou ao MEC que suspendesse o kit “Escola sem Homofobia” que seria distribuído em todas as escolas públicas do país. Embora limitada - por não ter sido discutida previamente com os trabalhadores da Educação e com os estudantes - o kit “Escola sem Homofobia” seria uma importante ferramenta contra a LGBTfobia nas escolas brasileiras. 

Além disso, como resultado do compromisso político com setores conservadores e reacionários, em 2013 assistimos o deputado Marco Feliciano, da base aliada de Dilma (PT), presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara (CDH) e tentar impor o projeto de “Cura Gay”. Aliás, uma das pautas que se desenvolveram ao longo das Jornadas de Junho foi a retirada deste projeto e a saída de Feliciano da CDH!

Por fim, é preciso repudiar a atitude covarde do Santander Cultural que encerrou a exposição se vergando aos argumentos LGBTfóbicos e exigir a imediata reabertura da exposição Queermuseu. O Santander Cultural é um Centro Cultural do Banco Santander, mas aberto ao público e para esta exposição contou com R$ 800.000,00 através da Lei Rouanet2. Caso mantenha a decisão de encerrar a exposição o Santander Cultural deve devolver imediatamente, e integralmente, esta quantia.

Sabemos que a perspectiva queer é uma das vertentes de um movimento amplo, com tendências diferentes e até divergentes entre si. Em nosso caso, acreditamos que as exposições precisam dialogar criando “pontes” com o público visitante; sobretudo com as trabalhadoras e trabalhadores, os únicos capazes de pôr abaixo esta sociedade capitalista e opressora. Criar “pontes” para desconstruir os preconceitos ideológicos disseminados socialmente por todos os meios de comunicação, incluindo os museus e centros culturais. 

Assim, acreditamos que as críticas às obras expostas e à perspectiva queer devem ser feitas no debate das ideias, respeitando a diversidade e a manutenção da exposição na duração prevista.

Este episódio nos impõe, também, a necessidade de avançarmos na defesa dos Museus e Centros Culturais públicos sob o controle dos trabalhadores e das comunidades nas quais estão inseridos. Quando a Cultura e a Educação estão à serviço do capital os direitos dos trabalhadores e dos oprimidos são sempre rifados em nome do lucro.

Por fim, é preciso lutar contra as medidas de Michel Temer (PMDB) que atacam os servidores públicos e o serviço público e, consequentemente, atingem diretamente os museus públicos brasileiros.

PELA IMEDIATA REABERTURA DA EXPOSIÇÃO QUEERMUSEU!
FORA TEMER! FORA TODOS ELES!
CRIMINALIZAÇÃO DA LGBTfobia, JÁ!

Notas

1 Professor da Coordenadoria Especial de Museologia da UFSC.

2 Ver: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/11/politica/1505164425_555164.html